quarta-feira, 25 de abril de 2012

CONTRA O DESPOTISMO

Sanhudo, inexorável Despotismo
Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas,
Que em mil quadros horríficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do Ateísmo:

Assanhas o danado Fanatismo,
Porque te escore o trono onde te enlevas;
Por que o sol da Verdade envolva em trevas
E sepulte a Razão num denso abismo.

Da sagrada Virtude o colo pisas,
E aos satélites vis da prepotência
De crimes infernais o plano gizas,

Mas, apesar da bárbara insolência,
Reinas só no ext'rior, não tiranizas
Do livre coração a independência.


Soneto de José Maria Barbosa du Bocage.

(A parte do Ateísmo é que enfim...)

UMA NOTÍCIA TRISTE ANTECEDENDO UM DIA DE FESTA



Miguel Portas, um dos poucos políticos sérios (e a sério) de Portugal.

terça-feira, 24 de abril de 2012

ASSINALANDO O 24 DE ABRIL

Hoje é dia 24 de Abril, data que alguns prefeririam comemorar, gente que ao longo destes anos tudo tem feito para apagar o significado da Revolução dos Cravos. Ultimamente chegaram ao ponto de afirmar que depois de 74 se gastou o que Salazar tinha poupado, segundo estes neo-fachos o Professor deixou aos portugueses enormes reservas de ouro que os comunas se encarregaram de delapidar.
Sim, é verdade: a riqueza acumulada pelo Estado Novo é indesmentível, mas não há qualquer dúvida que a maioria da população foi roubada para que alguns se locupletassem. País de cofres cheios e de estômagos vazios: "no meu tempo uma sardinha dava para três...".

Comemorei o oitavo aniversário 3 meses antes da revolução, mas desse curto tempo de vida lembro-me do sofrimento de gente com quem me cruzei.

Lembro-me bem que o medo era uma realidade palpável, tinha eu uns 5 anos e vinha subindo a Casal Ribeiro, a minha mãe protestava ruidosamente por no supermercado lhe terem pedido dinheiro pelo saco de plástico (1 escudo?), invetivava publicamente o Presidente do Conselho e eu chorando olhava à minha volta receando que aparecesse alguém para a calar.

Lembro-me bem desses dias de chumbo, da escola com o crucifixo na parede ladeado das fotografias de Tomás e Caetano. Da cacofonia na sala de aulas com a professora ensinando em simultâneo a primeira e a quarta classe, assim tinha de ser pois rapazes e raparigas andavam em escolas diferentes.

Lembro-me de visitar os meus avós maternos no Minho e de ver o meu avô abrir toda a correspondência dirigida à minha avó, que era das poucas mulheres mais velhas que sabia ler. Lembro-me das casas da aldeia não terem retretes.

Lembro-me do sr. Alfredo e das histórias que se contavam entre dentes, a sua mulher queria separar-se por maus tratos (não havia direito a divórcio) sem que ele o permitisse, um belo dia tendo o minhoto surpreendido a cara-metade a "por-lhe os cornos" lava a honra com sangue esfaqueando-a mortalmente. "Apanhou" pena suspensa, coisa vulgar nessa época, especialmente na província. A Mulher era então um ser em perpétua menoridade.

Lembro-me das campanhas de  prevenção da cólera logo a seguir ao 25 de Abril, o país sofrera surtos regulares desde 1971. Afinal não era um estado civilizador, como então se dizia, mas objetivamente uma nação do Terceiro Mundo.

Ainda sobre o país do 24 de Abril  não posso deixar de citar o artigo de Isabel do Carmo no Público intitulado Vamos Lá Empobrecer:
"O primeiro-ministro anunciou que íamos empobrecer, com aquele desígnio de falar "verdade", que consiste na banalização do mal, para que nos resignemos mais suavemente. Ao lado, uma espécie de contabilista a nível nacional diz-nos, como é hábito nos contabilistas, que as contas são difíceis de perceber, mas que os números são crus."
(...)
"Na terra onde nasci, os operários corticeiros, quando adoeciam ou deixavam de trabalhar vinham para a rua pedir esmola (como é que vão fazer agora os desempregados de "longa" duração, ou seja, ao fim de um ano e meio?). "
(...)
"Nesse país morriam muitos recém-nascidos e muitas mães durante o parto e após o parto. Mas havia a "obra das Mães" e fazia-se anualmente "o berço" nos liceus femininos onde se colocavam camisinhas, casaquinhos e demais enxoval, com laçarotes, tules e rendas e o mais premiado e os outros eram entregues a famílias pobres bem-comportadas (o que incluía, é óbvio, casamento pela Igreja). "
(...)
"Na província, alguns, poucos, tinham acesso às primeiras letras (e últimas) através de regentes escolares, que elas próprias só tinham a quarta classe. Também na província não havia livrarias (abençoadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian), nem teatro, nem cinema. "
(...)
"Eu vivi nesse país e não gostei. E com tudo isto, só falei de pobreza, não falei de ditadura. É que uma casa bem com a outra. A pobreza generalizada e prolongada necessita de ditadura. Seja em África, seja na América Latina dos anos 60 e 70 do século XX, seja na China, seja na Birmânia, seja em Portugal "

Eu também vivi nesse país e não gostei porque me lembro. É preciso que todos tomem consciência da nossa história recente, o "custe o que custar" de alguns políticos pode fazer-nos recuar pelo menos 4 décadas.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

YOUTUBE MUSICAL XXIV - RADIOHEAD (AGAIN)



Paranoid Android

(Vídeo realizado por um )

segunda-feira, 16 de abril de 2012

MAIS inCITAÇÕES PÚBLICAS

Quem passou pela Baixa-Chiado neste sábado (dia 14) teve oportunidade de ver 3 cartazes:

Aristóteles - Injustiça:
Estátua do Chiado.
Cadeira do Fernando Pessoa.
Portão do Quartel-General da GNR ao Carmo.
Entrada dos Armazéns do Chiado.
Rua do Carmo.
Livraria Leya no Rossio.
Comboios da Linha Azul do Metro de Lisboa.

Goethe:
Rua do Carmo.
Largo da Trindade.
Largo do Carmo.
Comboios da Linha Azul do Metro de Lisboa.

Aristóteles - Deus:
Entrada de 3 igrejas no Chiado, não me perguntem o nome que não sou cliente destes estabelecimentos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

inCITAÇÕES - ORA EÇA! (II)

"Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte."

Eça de Queirós, in "As Farpas".

Note-se que o excerto acima reproduzido não foi publicado na semana passada, mas sim em 1872. Efetivamente evoluímos muito pouco em 140 anos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

inCITAÇÕES PÚBLICAS III


Ia jurar já ter visto este cartaz lá para os lados do Chiado, mas certamente devo ter sonhado.
Clique em "Mensagens antigas" para ler mais artigos fantásticos do Arquivo.

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