HARMONIA 2004
Desejo a todos os leitores deste blog um harmonioso 2004, tudo de bom e oiçam boa música. Feliz Ano Novo!
domingo, 28 de dezembro de 2003
PRÉMIOS
Já tinha pensado em atribuir prémios do ano aqui no ''Abaixo de Cão'', mas depois dos Globos de Ouro do Barnabé não sei se vale a pena...
Já tinha pensado em atribuir prémios do ano aqui no ''Abaixo de Cão'', mas depois dos Globos de Ouro do Barnabé não sei se vale a pena...
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
sábado, 27 de dezembro de 2003
VENTO TROPICAL, NESTE MOMENTO ELIS ENCHE O MEU PEQUENO MUNDO
Sai Dessa
Sonhei que existia uma avenida
Sem entrada e sem saída
Prà gente comemorar
Toda hora, todo o dia, toda vida
Na tristeza e na alegria
Sem platéia e sem patrão
Hoje eu sonhei que cerveja sai na bica
No banheiro não tem fila
Nem existe contramão
Que o trabalho é ali na nossa esquina
E depois do meio dia
Nem polícia nem ladrão
Sonhei, como faço todo o dia
Como você não sabia
Meu senhor não levo a mal
A beleza, o amor, a fantasia
O que tece e o que desfia
Não se aprende no jornal
Hoje eu sonhei
Mas não vou pedir desculpa
E nem vou levar a culpa
de ser povo e ser artista
Sem essa, moço,
Por favor não crie clima
seu buraco é mais em baixo
Nosso astral é mais em cima
Voz: Elis Regina.
Música: Ana Terra - Letra: Nathan Marques.
Album: "Elis" 1980.
Ilustração do artista brasileiro Antonio Fernando dos Anjos.
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Elis Regina, insubstituível.
Sai Dessa
Sonhei que existia uma avenida
Sem entrada e sem saída
Prà gente comemorar
Toda hora, todo o dia, toda vida
Na tristeza e na alegria
Sem platéia e sem patrão
Hoje eu sonhei que cerveja sai na bica
No banheiro não tem fila
Nem existe contramão
Que o trabalho é ali na nossa esquina
E depois do meio dia
Nem polícia nem ladrão
Sonhei, como faço todo o dia
Como você não sabia
Meu senhor não levo a mal
A beleza, o amor, a fantasia
O que tece e o que desfia
Não se aprende no jornal
Hoje eu sonhei
Mas não vou pedir desculpa
E nem vou levar a culpa
de ser povo e ser artista
Sem essa, moço,
Por favor não crie clima
seu buraco é mais em baixo
Nosso astral é mais em cima
Voz: Elis Regina.
Música: Ana Terra - Letra: Nathan Marques.
Album: "Elis" 1980.
Ilustração do artista brasileiro Antonio Fernando dos Anjos.
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Elis Regina, insubstituível.
COMECEI A USAR O SÓTÃO
Depois do pedido de ajuda que recebi via email, querendo saber como colocar imagens no blog, ocorreu-me a ideia do Sótão. Neste anexo do ''Abaixo de Cão'' serão publicados truques úteis para os blogs e outros textos ''técnicos'' demasiado áridos.
Já lá estão as instruções para se conseguir ter, no blogspot.com, o título do blog (e a descrição) com acentos. Também encontrarão a forma de colocar imagens e ''links'' em qualquer blog.
Espero que alguém ache alguma utilidade ao meu novo cantinho.
PS: Antes de fazer alguma mudança importante no seu blog, efectue sempre uma cópia de segurança.
Depois do pedido de ajuda que recebi via email, querendo saber como colocar imagens no blog, ocorreu-me a ideia do Sótão. Neste anexo do ''Abaixo de Cão'' serão publicados truques úteis para os blogs e outros textos ''técnicos'' demasiado áridos.
Já lá estão as instruções para se conseguir ter, no blogspot.com, o título do blog (e a descrição) com acentos. Também encontrarão a forma de colocar imagens e ''links'' em qualquer blog.
Espero que alguém ache alguma utilidade ao meu novo cantinho.
PS: Antes de fazer alguma mudança importante no seu blog, efectue sempre uma cópia de segurança.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
terça-feira, 23 de dezembro de 2003
MARIA HELENA
Vieira da Silva, ''Bibliotèque'' 1952.
Ampliação aqui
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A todos os leitores do ''Abaixo de Cão'' um feliz Natal!
Vieira da Silva, ''Bibliotèque'' 1952.
Ampliação aqui
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A todos os leitores do ''Abaixo de Cão'' um feliz Natal!
domingo, 21 de dezembro de 2003
O COSMOS, O QUE É?
Galáxia Messier 81 (Constelação Ursa Maior) a ''apenas'' 12 milhões de anos-luz da Terra.
Nébula IC 1396 (Constelação de Cefeu).
Fotografias compósitas de quatro cores representando luz invisível de vários comprimentos de onda, foram tiradas em 18 de Dezembro pelo novo telescópio espacial Spitzer. Usando detectores infravermelhos consegue penetrar nas poeiras cósmicas permitindo assim observar com muito mais pormenor os fenómenos celestes.
Galáxia Messier 81 (Constelação Ursa Maior) a ''apenas'' 12 milhões de anos-luz da Terra.
Nébula IC 1396 (Constelação de Cefeu).
Fotografias compósitas de quatro cores representando luz invisível de vários comprimentos de onda, foram tiradas em 18 de Dezembro pelo novo telescópio espacial Spitzer. Usando detectores infravermelhos consegue penetrar nas poeiras cósmicas permitindo assim observar com muito mais pormenor os fenómenos celestes.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2003
POUPANÇA
Depois da desastrosa interpretação (segundo consta) da Oratória de Natal na Gulbenkian, diz o Crítico ''Se eu tivesse um bilhete comprado para dia 19 de Dezembro e gostasse mesmo de Bach, tocado a sério, com paixão e alma, tentaria vender o bilhete e compraria uma boa interpretação desta obra para ouvir em casa...''.
Parece que poupei dinheiro com a compra que fiz há cinco anos.
Depois da desastrosa interpretação (segundo consta) da Oratória de Natal na Gulbenkian, diz o Crítico ''Se eu tivesse um bilhete comprado para dia 19 de Dezembro e gostasse mesmo de Bach, tocado a sério, com paixão e alma, tentaria vender o bilhete e compraria uma boa interpretação desta obra para ouvir em casa...''.
Parece que poupei dinheiro com a compra que fiz há cinco anos.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
quarta-feira, 17 de dezembro de 2003
NOVELA DA TVI?
Vi agora na RTP2 parte deste programa assim resumido no ''Público TV'':
''23:00 - Resurrection
Segundo e último episódio de uma mini-série baseada numa obra de Leon Tolstoi e realizada pelos irmãos Taviani, que relata uma história de amor entre o príncipe Neckludjov e a prostituta Katjusha Maslova.''
Irmãos Taviani?! Que coisa tão mal dirigida e com actores tão maus! A este nível só me lembro de novelas da TVI, ou então mexicanas.
Vi agora na RTP2 parte deste programa assim resumido no ''Público TV'':
''23:00 - Resurrection
Segundo e último episódio de uma mini-série baseada numa obra de Leon Tolstoi e realizada pelos irmãos Taviani, que relata uma história de amor entre o príncipe Neckludjov e a prostituta Katjusha Maslova.''
Irmãos Taviani?! Que coisa tão mal dirigida e com actores tão maus! A este nível só me lembro de novelas da TVI, ou então mexicanas.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
CORAÇÃO SEM-ABRIGO III
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor...
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.
A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.
"Que importa?"
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.
"Quem tem de ser?"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.
Isto até quando?
Só tenho por consolação
Que os olhos se me vão acostumando
À escuridão.
Fernando Pessoa, 13-1-1920.
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor...
Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.
A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.
"Que importa?"
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.
"Quem tem de ser?"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.
Isto até quando?
Só tenho por consolação
Que os olhos se me vão acostumando
À escuridão.
Fernando Pessoa, 13-1-1920.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
CORAÇÃO SEM-ABRIGO II
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
CORAÇÃO SEM-ABRIGO I
Paisagem de chuva
Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia liquida me insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de sempre, entre lençois como entre gente, dolorosamente consciente do mundo. Tardava o dia como a felicidade - àquela hora parecia que também indefinidamente.
Se o dia e a felicidade nunca viessem! Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir.
O som casual de um carro tardo, áspero a saltar nas pedras, crescia do fundo da rua, estralejou por debaixo da vidraça, apagava-se para o fundo da rua, para o fundo do vago sono que eu não conseguia de todo. Batia. de quando em quando, uma porta de escada. Às vezes havia um chapinhar liquido de passos, um roçar por si mesmos de vestes molhadas. Uma ou outra vez, quando os passos eram mais, soava alto e atacavam. Depois, o silêncio volvia, com os passos que se apagavam, e a chuva continuava, inumeravelmente.
Nas paredes escuramente visiveis do meu quarto, se eu abria os olhos do sono falso, boiavam fragmentos de sonhos por fazer, vagas luzes, riscos pretos, coisas de nada que trepavam e desciam. Os móveis, maiores do que de dia, manchavam vagamente o absurdo da treva. A porta era indicada por qualquer coisa nem mais branca, nem mais preta do que a noite, mas diferente. Quanto à janela, eu só a ouvia.
Nova, fluida, incerta, a chuva soava. Os momentos tardavam ao som dela. A solidão da minha alma alargava-se, alastrava, invadia o que eu sentia, o que eu queria, o que ia sonhar. Os objectos vagos, participantes, na sombra, da minha insónia, passam a ter lugar e dor na minha desolação.
in ''O Livro do Desassossego'' de Bernardo Soares [Fernado Pessoa]
Paisagem de chuva
Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia liquida me insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de sempre, entre lençois como entre gente, dolorosamente consciente do mundo. Tardava o dia como a felicidade - àquela hora parecia que também indefinidamente.
Se o dia e a felicidade nunca viessem! Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir.
O som casual de um carro tardo, áspero a saltar nas pedras, crescia do fundo da rua, estralejou por debaixo da vidraça, apagava-se para o fundo da rua, para o fundo do vago sono que eu não conseguia de todo. Batia. de quando em quando, uma porta de escada. Às vezes havia um chapinhar liquido de passos, um roçar por si mesmos de vestes molhadas. Uma ou outra vez, quando os passos eram mais, soava alto e atacavam. Depois, o silêncio volvia, com os passos que se apagavam, e a chuva continuava, inumeravelmente.
Nas paredes escuramente visiveis do meu quarto, se eu abria os olhos do sono falso, boiavam fragmentos de sonhos por fazer, vagas luzes, riscos pretos, coisas de nada que trepavam e desciam. Os móveis, maiores do que de dia, manchavam vagamente o absurdo da treva. A porta era indicada por qualquer coisa nem mais branca, nem mais preta do que a noite, mas diferente. Quanto à janela, eu só a ouvia.
Nova, fluida, incerta, a chuva soava. Os momentos tardavam ao som dela. A solidão da minha alma alargava-se, alastrava, invadia o que eu sentia, o que eu queria, o que ia sonhar. Os objectos vagos, participantes, na sombra, da minha insónia, passam a ter lugar e dor na minha desolação.
in ''O Livro do Desassossego'' de Bernardo Soares [Fernado Pessoa]
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
terça-feira, 16 de dezembro de 2003
SEBASTIÃO SALGADO
Sendo o ''Abaixo de Cão'' um verdadeiro serviço público fica aqui a sugestão de um excelente site sobre fotografia.
Sebastião Salgado é, com toda a justiça, universalmente reconhecido como um dos grandes fotógrafos da História.
Com sensibilidade e excepcional talento tem retratado as migrações humanas por todo o planeta procurando sempre demonstrar que ''...a verdadeira família humana só poderá ser construída se tiver como alicerces a solidariedade e a partilha''.
Encontrarão um resumo da obra do grande fotógrafo no ''Legends Online - Sebastião Salgado''
A fotografia aqui apresentada (trágica e bela) retrata refugiados do enclave bósnio de Biack no campo de Turanj na Kraina em 1994. Ampliação aqui.
Sendo o ''Abaixo de Cão'' um verdadeiro serviço público fica aqui a sugestão de um excelente site sobre fotografia.
Sebastião Salgado é, com toda a justiça, universalmente reconhecido como um dos grandes fotógrafos da História.
Com sensibilidade e excepcional talento tem retratado as migrações humanas por todo o planeta procurando sempre demonstrar que ''...a verdadeira família humana só poderá ser construída se tiver como alicerces a solidariedade e a partilha''.
Encontrarão um resumo da obra do grande fotógrafo no ''Legends Online - Sebastião Salgado''
A fotografia aqui apresentada (trágica e bela) retrata refugiados do enclave bósnio de Biack no campo de Turanj na Kraina em 1994. Ampliação aqui.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2003
MAIS ABAIXO
Constato que ultimamente, neste blog, tem havido muita ironia e maldizer; apesar de serem essas também características do ''Abaixo de Cão'' quero recordar que, mais abaixo, encontram ''posts'' sobre Ary dos Santos, Cesariny, Wagner, Piazzolla, Coltrane, Pessoa, Torga, Brahms, Alexandre O'Neil, Brasaï e muitos, muitos outros grandes representantes da espécie humana.
Constato que ultimamente, neste blog, tem havido muita ironia e maldizer; apesar de serem essas também características do ''Abaixo de Cão'' quero recordar que, mais abaixo, encontram ''posts'' sobre Ary dos Santos, Cesariny, Wagner, Piazzolla, Coltrane, Pessoa, Torga, Brahms, Alexandre O'Neil, Brasaï e muitos, muitos outros grandes representantes da espécie humana.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
É VERDADE
Não queria que se soubesse (especialmente por causa das crianças), mas depois de ter feito a revelação num comentário do blog das Trutas espalhou-se a notícia como fogo em palha seca. No Blogotinha sou referido como a fonte e para não baralhar quem cá vem ver aqui fica toda a verdade.
O sr. Bush capturou o Pai Natal que gozava de umas curtas férias antes do louco período natalício, farto do frio da Lapónia e do Pólo Norte decidiu ir para o deserto trabalhar para o bronze. Não é que estando a dormir descansadinho no seu T1 lhe entram uma data de americanos a perguntar "speak english? are you Saddam?", como o velhote só sabe falar Lapão (!) prenderam-no argumentando que ''quem cala consente''.
Miúdos e graúdos, lamento informar mas este Natal ''não há prendas p'ra ninguém''.
P.S: Pode ser que o Crítico esteja certo e tenha sido a GNR a capturar o verdadeiro Saddam, nesse caso o Pai Natal não foi preso, dia 25 veremos.
PS2: O fulano que apanharam está sujeito à pena de morte, se for o Pai Natal quero ver quem cala os miúdos.
PS3: O PS2 não é patrocinado pela Sony.
Não queria que se soubesse (especialmente por causa das crianças), mas depois de ter feito a revelação num comentário do blog das Trutas espalhou-se a notícia como fogo em palha seca. No Blogotinha sou referido como a fonte e para não baralhar quem cá vem ver aqui fica toda a verdade.
O sr. Bush capturou o Pai Natal que gozava de umas curtas férias antes do louco período natalício, farto do frio da Lapónia e do Pólo Norte decidiu ir para o deserto trabalhar para o bronze. Não é que estando a dormir descansadinho no seu T1 lhe entram uma data de americanos a perguntar "speak english? are you Saddam?", como o velhote só sabe falar Lapão (!) prenderam-no argumentando que ''quem cala consente''.
Miúdos e graúdos, lamento informar mas este Natal ''não há prendas p'ra ninguém''.
P.S: Pode ser que o Crítico esteja certo e tenha sido a GNR a capturar o verdadeiro Saddam, nesse caso o Pai Natal não foi preso, dia 25 veremos.
PS2: O fulano que apanharam está sujeito à pena de morte, se for o Pai Natal quero ver quem cala os miúdos.
PS3: O PS2 não é patrocinado pela Sony.
ESTATUTOS
Neste blog:
1- Conforme sabem, lerão sobre música, literatura, arte, política, Internet, ciência, a tragicomédia humana, sobre tudo e sobre nada, mas principalmente sobre o cidadão português, sempre tratado... abaixo de cão.
2- Não serão nunca, jamais, em tempo algum, defendidos ideais caros aos facho-blogs.
3- Apesar de ser o Ferrari dos filósofos, Wittgenstein só será citado quando for absolutamente necessário.
4- Uma vez que o saudoso TV Rural jamais voltará à televisão, serão aqui analisados os problemas da PAC em geral e da agricultura portuguesa em particular. Quando se esgotarem todos os assuntos, evidentemente.
5- Jamais lerão ''posts'' sobre o Animatrix, o Matrix I, II, III, XVI, XXII ou CIX (excepto se for para falar mal).
6- Não se elogiará a torto e direito o Tarantino; cá para mim, os filmes dele são uma desculpa para os intelectuais verem filmes de porrada.
7- Em qualquer altura poderão ser acrescentados mais artigos (também não me lembro de mais nada neste momento). Os artigos existentes poderão ser alterados, excepto o 2 que só será modificado no caso do autor deste blog sofrer uma forte pancada na cabeça.
Neste blog:
1- Conforme sabem, lerão sobre música, literatura, arte, política, Internet, ciência, a tragicomédia humana, sobre tudo e sobre nada, mas principalmente sobre o cidadão português, sempre tratado... abaixo de cão.
2- Não serão nunca, jamais, em tempo algum, defendidos ideais caros aos facho-blogs.
3- Apesar de ser o Ferrari dos filósofos, Wittgenstein só será citado quando for absolutamente necessário.
4- Uma vez que o saudoso TV Rural jamais voltará à televisão, serão aqui analisados os problemas da PAC em geral e da agricultura portuguesa em particular. Quando se esgotarem todos os assuntos, evidentemente.
5- Jamais lerão ''posts'' sobre o Animatrix, o Matrix I, II, III, XVI, XXII ou CIX (excepto se for para falar mal).
6- Não se elogiará a torto e direito o Tarantino; cá para mim, os filmes dele são uma desculpa para os intelectuais verem filmes de porrada.
7- Em qualquer altura poderão ser acrescentados mais artigos (também não me lembro de mais nada neste momento). Os artigos existentes poderão ser alterados, excepto o 2 que só será modificado no caso do autor deste blog sofrer uma forte pancada na cabeça.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
quinta-feira, 11 de dezembro de 2003
IMAGEM
de ontem, era a reprodução da primeira fotografia jamais tirada. O seu autor foi Joseph Niépce em Junho (ou Julho) de 1827. Sendo difícil de decifrar reproduz o que o autor via da janela de sua casa. A sua exposição demorou mais de oito horas!
Estava assim aberto o caminho para o nosso mundo onde a imagem impera.
Enfim... uma curiosidade.
PS: ''Imagem de ontem, era..." mas onde é que eu já li isto?!
de ontem, era a reprodução da primeira fotografia jamais tirada. O seu autor foi Joseph Niépce em Junho (ou Julho) de 1827. Sendo difícil de decifrar reproduz o que o autor via da janela de sua casa. A sua exposição demorou mais de oito horas!
Estava assim aberto o caminho para o nosso mundo onde a imagem impera.
Enfim... uma curiosidade.
PS: ''Imagem de ontem, era..." mas onde é que eu já li isto?!
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
segunda-feira, 8 de dezembro de 2003
ARY
Poeta Castrado, Não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegada poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
De fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!
Ary dos Santos
in SANTOS, Ary dos. - Resumo. Lisboa, 1973.
Poeta Castrado, Não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegada poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
De fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!
Ary dos Santos
in SANTOS, Ary dos. - Resumo. Lisboa, 1973.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
CESARINY
You Are Welcome To Elsinore
You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
*
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mario Cesariny de Vasconcelos
You Are Welcome To Elsinore
You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
*
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mario Cesariny de Vasconcelos
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
domingo, 7 de dezembro de 2003
sábado, 6 de dezembro de 2003
PEDIDO
Queria pedir a todos aqueles que ainda tiverem um "link" para o "Abaixo de Cão" com o endereço antigo (abaixodecao.blogger.com.br) que o actualizassem para abaixodecao.blogspot.com .
Os leitores vêm cá parar na mesma, mas assim fico com menos ''links" e com pior classificação nos ''tops'', não serve para nada mas faz sempre bem ao ego.
Queria pedir a todos aqueles que ainda tiverem um "link" para o "Abaixo de Cão" com o endereço antigo (abaixodecao.blogger.com.br) que o actualizassem para abaixodecao.blogspot.com .
Os leitores vêm cá parar na mesma, mas assim fico com menos ''links" e com pior classificação nos ''tops'', não serve para nada mas faz sempre bem ao ego.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
sexta-feira, 5 de dezembro de 2003
EM SEARA ALHEIA
Que me desculpe o Crítico por abordar o mesmo assunto, sendo ele um especialista e eu um curioso, mas o meu Tristão é este: Windgassen, Nilsson, Talvela, Wächter,
Ludwig, Heater; Chor und Orchester der Bayreuther Festspiele 1966, Karl Böhm.
Que me desculpe o Crítico por abordar o mesmo assunto, sendo ele um especialista e eu um curioso, mas o meu Tristão é este: Windgassen, Nilsson, Talvela, Wächter,
Ludwig, Heater; Chor und Orchester der Bayreuther Festspiele 1966, Karl Böhm.
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
quarta-feira, 3 de dezembro de 2003
TRÊS DIAS É MUITO TEMPO
O ministro Bagão Felix, perante a pergunta de uma jornalista sobre o atraso de três dias no pagamento do subsídio de desemprego, responde que não responde a uma questão menor (com o ar arrogante a que já nos habituou).
Sr. ministro! Três dias para quem não tem outra fonte de rendimento é muito tempo, três dias para quem tem contas para pagar é muito tempo, três dias para quem tem crianças para alimentar educar e vestir é muito tempo, três dias para quem tem que contar cada cêntimo é muito tempo.
Mais valia ter dito o que estava a pensar "já têm muita sorte em receber algum dinheiro, cambada de parasitas que vivem à conta do Estado! (Estado que nem devia existir como diria São Milton Friedman)".
O ministro Bagão Felix, perante a pergunta de uma jornalista sobre o atraso de três dias no pagamento do subsídio de desemprego, responde que não responde a uma questão menor (com o ar arrogante a que já nos habituou).
Sr. ministro! Três dias para quem não tem outra fonte de rendimento é muito tempo, três dias para quem tem contas para pagar é muito tempo, três dias para quem tem crianças para alimentar educar e vestir é muito tempo, três dias para quem tem que contar cada cêntimo é muito tempo.
Mais valia ter dito o que estava a pensar "já têm muita sorte em receber algum dinheiro, cambada de parasitas que vivem à conta do Estado! (Estado que nem devia existir como diria São Milton Friedman)".
O autor do blogue "Abaixo de Cão"
segunda-feira, 1 de dezembro de 2003
SÍTIOS QUE NUNCA VI, TEMPOS QUE NUNCA VIVI - Buenos Aires
Uma das memórias mais vívidas que guardo foi ouvir Piazzolla ao vivo, fiquei tão hipnotizado que nem consegui aplaudir. Através daquela música lancinante, terna, feroz, lânguida, sensual, viajei até à Buenos Aires, cidade que nunca vi.
Cidade de imigrantes, de culturas díspares que foram forjando uma identidade única e inconfundível. O tango é a expressão dessa maneira de ser, é a nova Terra Prometida, é a dignidade, é o amor insano, é a ''Semana Trágica'', é Gardel, é Perón, é Evita, é a agitação social, é a ''Guerra Sucia'', é a voz de ''Las Madres de la Plaza de Mayo'', é a promessa da democracia, é a corrupção dos políticos e a crise económica, é uma criança vítima da fome.
Piazzolla transformou radicalmente a face do tango. ''Para mim o tango foi sempre mais para o ouvido do que para os pés'' dizia, resumindo assim a sua aproximação a um estilo tradicionalmente dançado. Carlos Gardel, o outro grande nome da história deste género musical, conhece o jovem Astor em Nova York (onde este vivia desde os três anos) e impressionado com o seu talento contrata-o para tocar no filme ''El Dia Que Me Quieras''.
Regressa a Buenos Aires em 1937 onde vai tocando em vários agrupamentos enquanto estuda música clássica com Alberto Ginastera. Escreve várias composições sinfónicas, uma das quais lhe ganha uma bolsa para estudar em Paris com Nadia Boulanger. A grande professora, perante as suas hesitações e ambivalências, encoraja-o a reencontrar as suas raízes, o tango e o bandoneon.
Era a voz que muitos não queriam ouvir, ''estava a tirar-lhes o tango, o seu velho tango''. A fúria era tão grande que um dia, enquanto dava uma entrevista na rádio, um cantor de tango irrompeu estúdio adentro apontando uma pistola à cabeça de Piazzolla.
Em 1955, depois de regressar à bela capital argentina, formou um octeto radical que incluía uma viola eléctrica. Levaram o tango para os domínios da música de câmara sem cantor ou dançarinos. Os media e as editoras discográficas fizeram a vida negra ao grupo que duraria apenas três anos, todavia Piazzolla fizera um corte decisivo com a tradição.
Volta a Nova York onde experimenta a fusão do jazz e do tango sem muito sucesso. De regresso a casa em 1960 forma vários quintetos e inicia o seu período mais produtivo escrevendo então muitas das suas peças clássicas tais como a triologia ''Angel''. Tendo experimentado vários formatos foi, porém, a combinação de bandeneon, contrabaixo, violino, piano e viola eléctrica, que veio a ser a sua favorita. Outros agrupamentos que estimava incluíram os seus sextetos e o mais radical e efémero ''Conjunto9'' que ficou famoso pela versão de ''Buenos Aires Hora Cero'' de 1983; esta peça (muitas vezes gravada) evoca essas noites em que ele e os seus colegas faziam uma pausa vagueando pelas ruas desertas antes de retomarem os ensaios que se estendiam até às quatro ou cinco da manhã.
Uma das mais conhecidas peças é, sem dúvida, o Libertango; Piazzolla escreveu-a para o seu segundo quinteto, o mais universalmente aclamado entre 1978 e 1988. Pouco depois da dissolução do quinteto sofre um forte ataque que o leva à morte em 4 de Julho de 1992.
A sua obra será sempre um testemunho de um homem que nunca cedeu à facilidade e que soube elevar o tango à categoria de música universal.
Uma das memórias mais vívidas que guardo foi ouvir Piazzolla ao vivo, fiquei tão hipnotizado que nem consegui aplaudir. Através daquela música lancinante, terna, feroz, lânguida, sensual, viajei até à Buenos Aires, cidade que nunca vi.
Cidade de imigrantes, de culturas díspares que foram forjando uma identidade única e inconfundível. O tango é a expressão dessa maneira de ser, é a nova Terra Prometida, é a dignidade, é o amor insano, é a ''Semana Trágica'', é Gardel, é Perón, é Evita, é a agitação social, é a ''Guerra Sucia'', é a voz de ''Las Madres de la Plaza de Mayo'', é a promessa da democracia, é a corrupção dos políticos e a crise económica, é uma criança vítima da fome.
Piazzolla transformou radicalmente a face do tango. ''Para mim o tango foi sempre mais para o ouvido do que para os pés'' dizia, resumindo assim a sua aproximação a um estilo tradicionalmente dançado. Carlos Gardel, o outro grande nome da história deste género musical, conhece o jovem Astor em Nova York (onde este vivia desde os três anos) e impressionado com o seu talento contrata-o para tocar no filme ''El Dia Que Me Quieras''.
Regressa a Buenos Aires em 1937 onde vai tocando em vários agrupamentos enquanto estuda música clássica com Alberto Ginastera. Escreve várias composições sinfónicas, uma das quais lhe ganha uma bolsa para estudar em Paris com Nadia Boulanger. A grande professora, perante as suas hesitações e ambivalências, encoraja-o a reencontrar as suas raízes, o tango e o bandoneon.
Era a voz que muitos não queriam ouvir, ''estava a tirar-lhes o tango, o seu velho tango''. A fúria era tão grande que um dia, enquanto dava uma entrevista na rádio, um cantor de tango irrompeu estúdio adentro apontando uma pistola à cabeça de Piazzolla.
Em 1955, depois de regressar à bela capital argentina, formou um octeto radical que incluía uma viola eléctrica. Levaram o tango para os domínios da música de câmara sem cantor ou dançarinos. Os media e as editoras discográficas fizeram a vida negra ao grupo que duraria apenas três anos, todavia Piazzolla fizera um corte decisivo com a tradição.
Volta a Nova York onde experimenta a fusão do jazz e do tango sem muito sucesso. De regresso a casa em 1960 forma vários quintetos e inicia o seu período mais produtivo escrevendo então muitas das suas peças clássicas tais como a triologia ''Angel''. Tendo experimentado vários formatos foi, porém, a combinação de bandeneon, contrabaixo, violino, piano e viola eléctrica, que veio a ser a sua favorita. Outros agrupamentos que estimava incluíram os seus sextetos e o mais radical e efémero ''Conjunto9'' que ficou famoso pela versão de ''Buenos Aires Hora Cero'' de 1983; esta peça (muitas vezes gravada) evoca essas noites em que ele e os seus colegas faziam uma pausa vagueando pelas ruas desertas antes de retomarem os ensaios que se estendiam até às quatro ou cinco da manhã.
Uma das mais conhecidas peças é, sem dúvida, o Libertango; Piazzolla escreveu-a para o seu segundo quinteto, o mais universalmente aclamado entre 1978 e 1988. Pouco depois da dissolução do quinteto sofre um forte ataque que o leva à morte em 4 de Julho de 1992.
A sua obra será sempre um testemunho de um homem que nunca cedeu à facilidade e que soube elevar o tango à categoria de música universal.
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