segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

ZECA (2/8/1929 - 23/2/1987)



Aos oito anos, idade que tinha no 25 de Abril, comecei a ouvir Zeca Afonso. Quando entrei na adolescência rejeitei o grande cantor; reacção natural naquela fase da vida, queria coisas mais ''modernas''. Estava a nascer o ''novo rock português'' e os ''velhos'' da música de intervenção eram história, porém apareceu o Sérgio Godinho do ''Canto da Boca''. Através do Sérgio descobri então o Zeca, homem íntegro que com a sua voz se tornou num símbolo de resistência à longa ditadura.
Depois da Revolução de Abril participa activamente na construção da Utopia, porém com o passar do tempo (e apesar das homenagens quando já se encontrava gravemente doente) os vários poderes foram esquecendo o homem e o artista. Esquecimento injusto de quem nos dirige e que quer transformar este país numa empresa lucrativa com empregados produtivos e sem inutilidades na cabeça.

Aqui vos deixo a letra de uma das minhas (muitas) canções favoritas:

Canto jovem

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca 

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